Zinho e o Pé de Marola

Era uma vez uma pobre viúva que vivia só no morro com seu filho Zinho. Um dia Zinho estava mais liso que aço escovado e resolveu vender a televisão da coroa na feira do rolo. Ele estava indo à feira, mas no caminho encontrou um mano que queria comprar seu televisor.

— E aí véi, que que tu me arranja em troca da TV? Mas não vá meter o louco, viu. — perguntou Zinho.

— Tem um barato do bom aqui, verdinha de primeira qualidade, plantada aqui mesmo no morro. Melhor qualidade impossível. De quebra você leva umas sementes mágicas, tá ligado? — respondeu o mano.

Zinho pegou as sementes e deu a TV ao mano. Chegando na quebrada, deu um salve pra galera, pegou um pouco de seda, bolou, apertou, acendeu e curtiu um maior barato, saco? Mas o bagulho moiô quando a velha se deu conta da falta do aparelho.

— Moleque vagabundo! Filho duma rapariga, desgraçado! A porra já tem vinte anos nas costas, vai arrumar um emprego, seu bosta. Cadê minha TV filho da p…

— Calma mãe, a senhora fica calma e deixa eu explicar a parada. — interveio Zinho.

— Tu vai ver a parada na sua cara… — argumentou a mãe, pegando o chinelo.

— Eu fiz uma troca boa, minha rainha. O mano me deu umas sementes mágicas, valem bem mais que aquela TV velha.

— Moleque imbecil. — desolada, a velha arrancou as sementes das mãos do filho e atirou pela janela para o quintal.

A velha não conseguiu ver a novela e Zinho foi para a cama sem jantar, na maior larica.

 

No dia seguinte Zinho acordou e viu pela janela que no quintal, bem onde a coroa havia jogado as sementes, havia nascido um tremendo matagal. Ele pegou um resto da seda, bolou um cigarrinho da erva e fumou. A fumaça foi tomando forma até surgir à sua frente um gigante pé de marola. O pé era transparente, mas palpável e subia para muito além do morro.

Zinho escalou o pé de marola e chegou a uma mansão que parecia até um castelo de tão cabulosa que a goma era. Lá viviam um gigante e sua esposa. A patroa era o maior filé, um baita cavalão, morô? Zinho entrou na casa e encontrou-a só na cozinha.

— Aí patroa. Pode me arrumar um rango? Tô numa larica disgranhenta.

A mulher deu leite e biscoitos para o jovem. E mais algumas coisas…

Então o gigante chegou em casa e viu a mulher nua na cama.

— Fe-fi-fo-fum, eu sinto cheiro de vagabundo! Vivo ou morto, se eu te pego te encho de pipoco! — gritou o gigante.

— Não tem ninguém aqui. Eu estava te esperando, amorzinho — disse a esposa.

Escondido no armário, Zinho esperou o gigante adormecer para fugir. Surrupiou a carteira do gambé e um pacote de pó branco que encontrou escondido dentro do armário e zarpou dali.

 

Zinho entregou o pacote de ouro em pó para o Comando e pegou uma grana boa que deu para comprar uma baita televisão pra coroa, assar uma carniça de primeira com breja da melhor qualidade para os parças e viver de boa por um bom tempo. Sua mãe estava muito feliz.

Alguns dias depois, Zinho bolou mais um e outra vez subiu pelo pé de marola e foi para a casa do capitão gigante. Lá encontrou a esposa na cozinha e estava com ela na banheira quando ouviu o gigante se aproximando da mansão.

— Fe-fi-fo-fum, eu sinto cheiro de vagabundo! Vivo ou morto, se eu te pego te encho de pipoco! — gritou o gigante.

Zinho saiu correndo do banheiro e se escondeu no porão.

— Não tem ninguém aqui, não, mozão. Entra aqui comigo, vai. — disse a esposa ao gigante.

No porão Zinho encontrou uma galinha que botava ovos de ouro. A impressão era cabulosa, o papel, a tinta, impossível de distinguir da prata do governo. Quando tudo se aquietou mais tarde, Zinho pegou a galinha e capou o gato.

 

Zinho agora era o cabeça da quebrada. A coroa estava muito feliz e tinha tudo que queria e a vida com as parças estava melhor que nunca: não faltavam piriguetes, carne, breja e uns beck loco.

Passado mais alguns dias, Zinho outra vez escalou o pé de marola e foi para a casa do gigante.

— E aí minha gata, descola um rango daqueles que hoje a larica tá brava. — disse o jovem para a esposa do capitão gigante.

Enquanto o rapaz comia o gigante retornou para a casa. Zinho correu para esconder-se debaixo da cama.

— Fe-fi-fo-fum, eu sinto cheiro de vagabundo! Vivo ou morto, se eu te pego te encho de pipoco! — gritou o gigante, deixando o distintivo e a arma na mesa da sala, enquanto procurava a mulher.

— Não tem ninguém aqui. Deixa de ser desconfiado. — respondeu a esposa.

Quando o gigante adormeceu, Zinho saiu do esconderijo, mas no caminho tropeçou no criado mudo e acordou o capitão que, furioso, correu atrás de Zinho. Mas o jovem era mais rápido, alcançou a mesa da sala, pegou o oitão e descarregou o berro nele.

 

Zinho desceu correndo o pé de marola e se escondeu em casa, queimou o matagal para dar um fim no pé de marola. Ele e sua mãe continuaram muito ricos e viveram felizes para sempre, ou melhor, felizes até uma quinzena dali quando os homens da milícia, amigos do capitão, desceram tanto chumbo no desgraçado que seu corpo ficou mais metal do que carne.

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